segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O primeiro ano é o pior!

   O primeiro ano é o pior. Ouvi muito essa frase de outr@s imigrantes brasileir@s quando cheguei em Portugal, e não acreditei muito nela no começo, mas acabou se confirmando uma verdade.
   O primeiro ano é o pior por ser o ano das diversas fases de adaptação. Adaptação ao clima, aos costumes, a comida, ao isolamento, a solidão, etc.
   Assim que você chega no seu destino há aquelas semanas de frisson, tudo é novidade,  você de certa forma está de "férias", conhecendo um outro país, tira muitas fotos e fica em estado de encantamento. Mas ao mesmo tempo tem já que começar a correr atrás da vida, então procura casa, trabalho, tenta seguir seus planos traçados. Mas como alguns dizem, a vida é escrita em linhas tortas, e os teus planos bem traçados começam a ter alguns desvios e desvarios. Então vem aquela sensação de questionamento de tudo, você está distante da vida que sempre teve e começa a repensar toda sua trajetória até chegar a um outro país. Pensa na família, nos amigos, nos erros, nos acertos, vai colocando a vida numa balança e faz algumas promessas para que nesta nova oportunidade tudo venha a dar certo, e talvez esse seja o erro, criar muitas expectativas. E assim a gente vai tropeçando e começa a bater aquele banzo da nossa terrinha, de nosso porto seguro. E então alguém repete mais uma vez, tem calma que o primeiro ano é o pior.
   É pior porque aprendemos um pouco mais da profundidade da palavra saudade, e aprendemos principalmente a viver só. Mas esse é o lado bom da coisa, a gente passa a se conhecer melhor e aprender a conviver melhor consigo mesmo, porque afinal em um país estrangeiro você é a única certeza de alguém com quem pode contar.
   Por isso, se você está passando pelo primeiro ano, por esse turbilhão de emoções e experiências tenha calma. Se tiver em uma fase triste e de desespero, respire fundo e espere alguns dias para a maré ruim passar, não tome decisões precipitadas no calor dos sentimentos. É claro que não estou dizendo que temos que aguentar tudo e mais um pouco, esta é só uma dica mais subjetiva sobre esses momentos que toda pessoa imigrante uma hora passa, que são os momentos de saudade, solidão e questionamento. Se você tem um plano, uma meta, um objetivo, se agarre nele que o vento vai passar, e ao final de um ano, vais olhar para trás e ver o quanto penou, mas também o quanto cresceu e olhando para frente vais continuar a ver o caminho sempre por percorrer.


Back in Bahia
Gilberto Gil
Lá em Londres, vez em quando me sentia longe daqui
Vez em quando, quando me sentia longe, dava por mim
Puxando o cabelo nervoso, querendo ouvir Celly Campelo pra não cair
Naquela fossa em que vi um camarada
meu de Portobello cair
Naquela falta de juízo que eu não
tinha nem uma razão pra curtir
Naquela ausência de calor, de cor, de sal,
de sol, de coração prasentir
Tanta saudade preservada num velho baú de prata dentro de mim
Digo num baú de prata porque prata é a luz do luar
Do luar que tanta falta me fazia junto do mar
Mar da Bahia cujo verde vez em quando me fazia bem relembrar
Tão diferente do verde também tão lindo dos gramados campos de lá
Ilha do Norte onde não sei se por sorte ou por castigo dei deparar
Por algum tempo que afinal passou depressa, como tudo tem depassar
Hoje eu me sinto como se ter ido fosse necessário para voltar
Tanto mais vivo de vida mais vivida, dividida pra lá e pra cá
Lá em Londres, vez em quando me sentia longe daqui
Vez em quando, quando me sentia longe, dava por mim
Puxando o cabelo nervoso, querendo ouvir Celly Campelo pra não cair
Naquela fossa em que vi um camarada
meu de Portobello cair
Naquela falta de juízo que eu não
tinha nem uma razão pra curtir
Naquela ausência de calor, de cor, de sal,
de sol, de coração prasentir
Tanta saudade preservada num velho baú de prata dentro de mim
Digo num baú de prata porque prata é a luz do luar
Do luar que tanta falta me fazia junto do mar
Mar da Bahia cujo verde vez em quando me fazia bem relembrar
Tão diferente do verde também tão lindo dos gramados campos de lá
Ilha do Norte onde não sei se por sorte ou por castigo dei de parar
Por algum tempo que afinal passou depressa, como tudo tem de passar
Hoje eu me sinto como se ter ido fosse necessário para voltar
Tanto mais vivo de vida mais vivida, dividida pra lá e pra cá

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